sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um texto que eu queria ter escrito...

Seu Jair, Bernardo e o amor incondicional
por Lúcio de Castro – Jornalista da ESPN – Brasil
13/04/2011


 "Dois passos para o lado deixando a Rio Branco e estamos no Largo da Carioca. Nunca consegui cruzar a Carioca sem esquecer da vida, abandonar os afazeres e ficar admirando aqueles tipos. A primeira parada sempre foi um pedido de música para Ademir Leão. De seu sax ouvia alguma bossa nova, “As time goes by”, Cartola e seguia. Parava na roda do Alexandre, que enrolava durante horas seu público, prometendo que dentro em pouco iria dar três saltos mortais e entrar na garrafa. Sua retórica era tão espetacular que uma multidão ficava horas hipnotizada e talvez até acreditasse que não era possível ir embora, sob o risco de perder a façanha. Já nem me lembro se cheguei a acreditar ou não. Por fim, parava na minha atração predileta: Jair Maravilha, que durante horas conversava com a massa enquanto fazia embaixadinha de todos os jeitos. Sujeito dos mais espirituosos que conheci, vi poucos com tamanha capacidade de entreter a multidão. 
Seguindo pelas ruas da cidade vou parando para me divertir com o que o de melhor uma cidade pode oferecer: seus tipos, suas figuras. Algo tão vivo por aqui em São Sebastião do Rio de Janeiro... Deve ser o que João do Rio chamou de “a alma encantadora das ruas”. Suas crônicas são puro deleite para quem quiser saber sobre tipos da rua. Gosto de ir flanando por aí e encontrando tais tipos. Um pulo em Vila Isabel para resenhar com Evandro Bocão, sempre de bermuda e sandália, uma meia-trava no Flamengo para ouvir as mentiras do Juca, as saudades das memórias do Francês em Ipanema e o dia já se foi. Tantos personagens mais que já me deram a ideia de catalogar todos eles e escrever um livro. Não fosse a vontade maior ainda de seguir vendo eles ao vivo do que na tela do computador, levaria isso adiante...
Mas talvez nenhum personagem me fascine mais do que o casal de moradores de rua que fica perto da minha casa. Devem estar lá pelos 40 anos, maltratados pelo desabrigo das ruas e pela bebida. Provavelmente jamais saberão que sempre fico olhando com absoluto encanto para os dois. Sempre com o mesmo pensamento: pode haver amor maior do que o daqueles dois, sempre namorando, sempre parecendo apaixonados? Ali não existe pensamento no cartão de crédito do parceiro, no apartamento, no dote ou em qualquer garantia. Entendi meu fascínio diante do casal quando parei para meditar o que tanto me encantava nos dois. Fácil de entender: não pode haver nada mais espetacular do que o amor incondicional. Amar alguém ou algo sem qualquer condição, sem qualquer razão. Amor de pai e filho, amor de filho e pai, amor de mãe e também provavelmente a grande razão para sermos tão apaixonados por futebol: amor pela bandeira que torcemos. Muitas vezes o amor que nos liga aos pais. Acima de tudo, um amor incondicional.
Lembrei-me disso tudo na tarde de sábado. Estava em Macaé, cobrindo o jogo que poderia definir o rebaixamento do América. Quando meu caminho cruza com um desses personagens maiores, espetaculares. Marceneiro, morador de uma favela na Baixada Fluminense, 69 anos. Seu Jair Rangel, torcedor do América, solitário cavaleiro envergando incondicionalmente a bandeira e as cores que o pai ensinou a amar. 
Seu Jair da epopéia para chegar a Macaé, baldeando desde às cinco da matina em mais de cinco ônibus. Não estamos falando do Barcelona nem do Real Madri. Estamos falando do América prestes a ser rebaixado. Quem há de explicar esse tal de amor incondicional, essa coisa que sai da alma e passa pelo coração, e faz seu Jair sentir a presença do pai que já se foi há mais de 20 anos, reencontrado na arquibancada nos dias de jogo do América.
Teve ainda o Bernardo, menino de 18 anos, estudante de engenharia na PUC. Outra realidade tão distinta do marceneiro da Baixada, mas unidos e juntos naquela arquibancada. Poderia estar nos embalos de sábado à noite como tantos de sua idade e condição, mas estava ali, naquele amor incondicional, passado também pelo pai. Sem saber como voltaria para o Rio, rebaixado, mas certamente de alma lavada por manter a chama acesa.
Costumo dizer que estranhamente, depois dos anos conhecendo alguma coisa dos bastidores do futebol, estranhamente ainda sigo gostando disso tudo. Talvez pela mesma chama e razão que movem seu Jair, Bernardo. O amor incondicional, aquele que os pais nos passam como parte de nossa identidade. Vai entender? Só sei que no sábado mais uma vez vi reafirmada a certeza de que isso tudo segue aceso demais, apesar dos Teixeiras e cia, apesar dos pesares. Faz escuro mais eu canto, como disse o poeta. O canto do seu Jair, do Bernardo, o dos nossos..."

Texto maravilhoso! Esse fim de semana estréia na ESPN-Brasil um especial que o jornalista Lúcio de Castro fez no Haiti - ESPECIAL: HAITI, O PAÍS DOS REST AVEC vale a pena conferir.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Na pressão, como diria meu bom e velho amigo Ricardo


Minha pressão foi aos píncaros ontem a tarde. Tem uns 15 dias que venho percebendo que alguma coisa está errada e ontem fui parar no hospital. Quem me conhece sabe que quando chego a esse nível, de ir a um hospital, é sinal que minha preocupação é real. Resultado, estou com um desequilíbrio na pressão arterial e agora vou ter fazer um monte de  exames e não sei que lá mais. Largar o cigarro, fazer exercícios, dormir direito, comer corretamente... tudo que eu odeio. Vai lá, tô chegando aos 40, alguma coisa tem que ser feita. Primeiro os exames e depois os abandonos e que eles sejam mínimos. Sobra um tempinho entre a cama e a sopinha para visitar a net, responder emails, ver um filme, ler alguma coisa e jogar vídeogame. Coisa que fiz está noite já que não consegui dormir nada. Assisti essa madrugada o Rede Social - depois, se for o caso, comento melhor o filme porque hoje ele é só o mote para o que eu quero realmente falar. No filme ficou claro, pelo menos para mim, o quanto o criador do Facebook é um exemplo mesmo do que rola no mundo dos nets. Um babaca! É o que Mark Zuckerberg é no filme. Um covarde que se esconde na sua inteligência e no anonimato. Ladrão de idéias, o autocentrado Zuckerberg é o retrato do vemos muitas vezes no uso da internet. Terra de ninguém para  um monte de babacas anônimos vociferarem impropérios e falar borracha. É claro que este blog também pode ser acusado disso, mas aqui há diferença: eu assino meus textos, meu perfil é visível e todos sabem que sou eu que falo. Não me escondo atrás de um perfil falso só para atirar pedras de maneira inconseqüente. Outro problema comum na net é o plágio! Dá pra acreditar que tem idiota que copia o texto da rede e mete o texto num blog qualquer sem citar a fonte e o autor como se o texto fosse seu? A ironia e que quando vc faz uma pesquisa simples no Google lá vem o mesmo texto em diferentes lugares. O original em que o autor gastou seu suor ou dinheiro de algum investidor (editora, programas de mestrado e doutorado, revistas acadêmicas e outras) e um monte de plágios. Alguns plágios são tão descarados que da vontade de rir, outros são casos de polícia mesmo.
Hoje gastei parte de minha tarde, entre um remedinho e outros desequilíbrios da pressão arterial , com um desses babacas. Alguns alunos meus da UEG tem um blog, o Bomba H - seguidores da História http://www.bomba-h.blogspot.com/ espaço usado por eles para debaterem suas dúvidas, publicarem seus textos e pesquisas, dialogar com a comunidade acadêmica e entre eles mesmo, sem nenhum anonimato, é bom que se diga. Algo ótimo no universo da academia e principalmente da UEG que é quase muda. Sobre os problemas da UEG posso discorrer horas a fio e é por isso que quando aparece uma coisa decente e esforçada temos que valorizar e participar. Pois bem um anônimo invadiu o Bomba H para vociferar impropérios. Altivo, o babaca anônimo, acusa os editores do Bomba H de falta de inteligência. Antes, o babaca anônimo, comentou um texto bem escrito do Lucas, um dos editores do Bomba H, um comentário que é em si um plágio de um texto do Otávio Ianni. Veja, citar autores é sempre bom a fim de embasar seus comentários, mas simplesmente copiar um texto alheio e usá-lo como comentário é crime e é ridículo. Depois, o babaca anônimo, criou um Blog também anônimo: Homem bomba H. http://homembombah.blogspot.com (faltou criatividade até aqui) Até agora o Blog tem três posts. Os dois primeiros são recortes desconexos de diversos textos da net. Nem copiar direito o nobre editor soube fazer: letras diferentes, com tamanhos diferentes e nada, nada mesmo, escrito por ele. O terceiro post  só tem agresão, palavras sem conexão e mal escritas. Ai sim foi ele, o babaca anônimo. Se dizendo um ex aluno da UEG agride gratuitamente o bom trabalho dos alunos atuais. Ressentimento é o nome que dou a isso. Tentei discutir com ele no espaço dele, mas não foi possível ele deletou meus comentários. Então, babaca anônimo, como também tenho um espaço virtual transferi o debate para esse espaço. Espaço que você não pode apagar nem esconder suas frustrações e ressentimentos. Então depois do filme e da tarde de estupefação fiquei me perguntando se o Zuckerberg e o babaca anônimo não representam a mesma figura triste do homem ressentido sem amigos? O Ricardo? Ah é um amigo que tenho há muito tempo que me apresentou a vida, um chopinho na pressão e um cara chamado Lacan. Três coisas que não fariam mal a um ressentido. Ou quatro se contarmos o Ricardo.


sexta-feira, 4 de março de 2011

O reino burocrata do nada pode

Lá se vai o tempo em que a frase “é proibido proibir” estampava os muros das grandes cidades brasileiras. Hino da juventude que lutava contra o Regime Militar implantado no Brasil em 64 a música “é proibido proibir”, de Caetano Veloso também não parece oferecer mais nenhum sentido no começo desta segunda década do século XXI. “É proibido proibir” que também foi lema em terras francesas naquele maio 1968 histórico, onde pareciam ressoar, ainda, os ecos da Revolução Francesa e seus ideais. O lema agora parece ser o contrário. Tudo é proibido. Sem querer percorrer um trajeto imenso e legítimo que pode me convencer que tais ideais revolucionários jamais tenham sido de fato alcançados, a frase de contestação ressoada em canções e gritos da juventude indignada sempre representou uma esperança aos que ambicionavam o fortalecimento, o que me parece legítimo, de uma sociedade mais livre, igualitária de fraterna. Na medida das coisas, é também na própria discussão da fundação do estado moderno, democrático e baseado nas leis que o lema “é proibido proibir” pareceu sempre atuar. A esse novo modelo de Estado, e suas instituições, sempre coube o papel de conduzir o debate entre as diferentes idéias e interpretações sobre diferentes questões, inclusive sobre o que é mesmo liberdade e, entre o Estado e os desejos, posicionou-se o indivíduo moderno. Nesse cabo de guerra, que tem o indivíduo como a corda, ainda não houve vencedor. Ora os “desejos ilimitados” desancoram do estado e carregam o indivíduo com eles, ora a máquina do estado recolhe o cabo como se fosse linha de pipa de papel de seda e lá se vai novamente o indivíduo. O que deveria equilibrar as forças seriam as instituições ligadas ao Estado ou ao mundo dos desejos que viabilizassem à sociedade instrumentos de análise e ao indivíduo uma melhor apreciação dos diferentes interesses em torno de seus desejos. As universidades, centros de pesquisa, imprensa livre, institutos de análises estatísticas, sindicatos, entidades de representação patronal, confederações esportivas e os próprios poderes estabelecidos, legislativo, judiciário e executivo; Deveriam zelar por este equilíbrio, mas é mais fácil dizer: - Não pode! - É proibido! – Não está no regimento! É inconstitucional! – Não vamos tolerar isso!
Antes que o real motivo que me trouxe ao blog se vá...
Duas Coisinhas que intrigam um indivíduo exausto de ser esticado de lá pra cá:
Na universidade que leciono a UEG, o burocratismo tomou conta. E quando isso toma conta de uma instituição de ensino e pesquisa como uma universidade, nada é possível, sinônimo de é tudo proibido. Não por falta de vontade e de boas propostas, mas a máquina pesada e imensa nem enxerga o problema de suas engrenagens. Multicamp o que deveria ser um orgulho do Estado e de seus cidadãos, a UEG presa na burocracia e emperrada na falta de autonomia das suas unidades parece atolada e mesmo quando se movimenta um pouquinho segue em movimentos circulares. Todo ano tudo novo e tudo igual, só que pior. Mais papel e menos investimento. É isso que gera seu pior problema: o compadrio e o carguismo. A Burocracia na UEG além de gerar essas distorções que permitem que mais de 60% de seus professores lecionem com contratos temporários, só amplia o debate sobre o compadrio e gera mais descrédito e mais papel para justificar o injustificável. Enquanto isso os que querem contribuir, repensar velhos paradigmas inclusive da própria gestão da Universidade ficam presos no mundo do nada pode.
O Brasil, conhecido como país do futebol, está recheado de estádios de futebol, uns bons outros ruins, de acordo com a realidade financeira dos times que ocupam esses espaços. De fato, no quesito estádio de futebol, aqueles que gostam de ir ao jogo no campo não recebem um tratamento adequado e muitas vezes sofrem em filas imensas e com ingressos caros. Isso tudo nós sabemos. Temos muito que avançar nisso. Mas considero legítimo o interesse do Brasil em sediar uma Copa do Mundo. Afinal, quer se queira ou não, o futebol é elemento de nossa identidade e faz parte do cotidiano de nossa sociedade. O que me intriga é como a FIFA e sua contraparte CBF permitiram um Flamengo e Vasco no Maracanã todo o domingo e agora proíbem o estádio para Copa do Mundo. Situação estendida a todos os outros estádios que também não servem. Estão todos vetados. Gastar bilhões em estádios pode! Juro que não entendi porque pode gastar-se milhões de reais para um Suécia X Austrália qualquer, pode jogar Flamengo X Vasco de qualquer jeito e não pode explicar essa contradição. Lisura é um mínimo que se deve exigir para se acelerar os investimentos nessa área sem a devida inserção dos clubes que irão utilizar e gerir esses estádios , e não dizer: - Esse estádio não pode servir a Copa do Mundo! Tem muita grana envolvida nisso nos próximos anos.
Os exemplos são diferentes embora o caso seja o mesmo. Vamos alimentar o monstro da burocracia que tem muitas boquinhas.  

sábado, 19 de fevereiro de 2011

50 anos a mil

Essa semana assisti umas duas vezes a entrevista concedida por Lobão à jornalista Elisabete Pacheco do programa Almanaque na GloboNews. A entrevista foi para mim, em parte, um convite à leitura de 50 anos a mil, autobiografia do roqueiro e, noutra parte, um convite a rememoração e a investigação. Rememorações divertidas de um tempo em que seu som embalava minhas baladas nos anos 80. Minhas memórias ficam ainda mais divertidas quando é o próprio Lobão que as avalia. Parece loucura? Mas é sério! Nasci e morei em Brasília quase todo o tempo de minha vida e a cena do rock da capital era nos fundos da minha quadra. Escutávamos de tudo naquela época e tudo que era produzido em Brasília, tinha lugar de destaque em nossas fitas cassetes. Gravações de garagem eram como se fossem ouro prá nós e tínhamos várias, mas curtíamos de tudo, uma mistura doida, algo comum nos anos oitenta. Cores fortes cabelinhos diferentes, tecladinhos irritantes dos quais nem mesmo o velho Lobão escapou. Ninguém esquece a banda, Lobão e os Ronaldos, ou mesmo seu primeiro sucesso Cena de Cinema, com aquela guitarinha lá lá lá e o som meio NEW WAVE que ele mandava, seu tempo com a pop Blitz e de outras parcerias. Algo que agora ele parece não lembrar. Quer se incluir entre os roqueiros que faziam rock de verdade contrapondo-se ao grupo que ele chama, de maneira classificatória, de rock de bermudas, dos Paralamas e da Legião, representando um rock mal feito, ruim. No fundo sempre se soube que nem tudo era assim tão bom, nem tão bem feito e que, no fundo, tinha muita coisa ruim mesmo, malfeita, mal tocada, enlatada e tudo mais. Parece que Lobão quer um lugar especial no meio daquela farofa toda. Fala sério, Lobão! O cara tocou numa banda com o Ritchie e quer escapar da farofa? Na entrevista, sem saber, Lobão acusa minhas memórias, e talvez a memória de outros, de misturar alhos com bugalhos ou ele e o restante do rock brasileiro, mas pelo que fala na entrevista, ele e Cazuza são diferentes no meio desta cena. Quero entender por que ele acha isso? Na entrevista Lobão dispara contra tudo e contra todos fazendo parecer em alguns momentos que detém a chave do cofre de algum conhecimento a que ninguém teve acesso. A jornalista ligou a câmera e o microfone e deixou o cara falar. Grande, barbudo e com o rosto de quem visivelmente viveu 50 anos a mil Lobão está solto e falando de tudo no programa. Entrevistas que devem se repetir algumas vezes já que o livro lançado no final do ano passado começa a repercutir e, embora eu não seja fã do gênero – autobiografia explosiva que revela tudo – confesso que fiquei curioso. Entre as já conhecidas acusações a MPB, os roqueiros de Brasília e as leis brasileiras a metralhadora giratória de Lobão acerta outros tiros. Criticando a heroicidade de Macunaíma e a idéia de que a cultura brasileira seria, como disseram os modernos, resultado antropofágico, ele foi enfático – “Minha música não é resultado de antropofagia! Eu tenho nojo de dizer que sou antropofágico, eu sou educado, eu não como ninguém, eu não preciso digerir a arte seja lá de que parte do mundo for sem querer dar uma de malandro agulha – Ah eu vou comer e parará! Eu não sou nem filho de indígena, eu não tenho nada a ver com isso e quem era um Caeté, como o próprio Ledo Ivo, abomina... ... Antropofágico o cacete! E a gente ainda tece loas a Macunaíma o herói sem nenhum caráter, preguiçoso. Porra cara eu não sou nada disso! Qualé?” Em tempos de um rock nacional frágil como o que vivemos agora um pouco mais desse antigo debate cairia bem prá caramba, aliás qualquer debate cairia bem prá caramba! Vou ler o livro.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Novidades no PIRANOPIRA

Como todo começo de ano também é um recomeço...
Recomeçam os trabalhos do PIRANOPIRA...
Desde o começo, lá no início... Sabia da preguiça que me daria alimentar o blog...
Como todo recomeço dialoga diretamente com promessas... Se não; não precisaria chamar recomeço...
Não vou prometer, mas... Já deu para entender? Né?
Bom...


O PIRANOPIRA tem um propósito ainda não explorado, que na falta de nome mais criativo chamei de casa de idéias, que gostaria de fazer valer antes da nova, digamos, morte do espaço. Este ano propus dois trabalhos de pesquisa aos meus alunos do curso de História da UEG e o PIRANOPIRA irá acompanhar suas produções de perto. Aliás, o que se espera é que o PIRANOPIRA sirva como um espaço de reflexão e questionamento dos próprios caminhos e resultados das pesquisas.  
Um dos trabalhos parte de uma inquietação historiográfica, ainda dos tempos da minha graduação, em torno dos conceitos de mito e de história no mundo antigo e sobre o que poderia haver de comum entre o pensamento grego e a tradição do pensamento ocidental? Debate caro àqueles que participaram junto comigo das reuniões esfumaçadas do NEC. Já faz quase vinte anos... Na verdade pretendemos revisitar um caminho de pesquisa, que acho que nunca deixei completamente, aberto pelo Núcleo de Estudos Clássicos da Universidade de Brasília que iniciou em 1995, o projeto “Os Estudos Clássicos hoje: Continuidade ou ruptura da tradição humanista?”, sob a orientação dos professores Emanuel Araújo, Sonia Lacerda e José Octávio Nogueira Guimarães.
O outro trabalho é resultado do encontro de um ano de 2010 riquíssimo de debates prazerosos e de um velho hábito. Os cursos oferecidos em conjunto com a Émile, o Marcelo e o Karley foram sensacionais.  Aliás, “Lost in Deleuze”, “O herói e a cidade. Tempos múltiplos da modernidade na perspectiva dos quadrinhos e do cinema contemporâneos” e “Tempo e narrativa na série House” foram um momento de reflexão mais do que interessante do papel das novas mídias no mundo contemporâneo. O velho hábito é a leitura de quadrinhos de heróis... Os leio desde que leio... Tenho uma coleção enorme. Várias revistinhas mesmo! Já tive mais. Já perdi, já dei tudo e comecei a juntar novamente. Sempre as tive e com o perdão da expressão ultrapassada sempre os achei muito legais! Mas também sempre os achei sérios e embora fossem descartáveis eu nunca os descartei. E agora, para minha surpresa, eles se tornaram fontes de pesquisa. (segue uns pedacinhos do projeto) _ “... a idéia proposta visa o cruzamento, a interpolação e diálogo entre o conjunto de medidas político-sociais aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, conhecido como Ato patriótico e o universo ficcional Marvel no “mega-arco” de histórias chamado Guerra Civil. Na tentativa de viabilizar um espaço de reflexão apoiado nos quadrinhos contemporâneos esta pesquisa pretende observar de que maneira o mundo dos heróis ajuda na reflexão de temas caros a historiografia contemporânea (...) realidade/ficção, mito/história, poder/política e representação/imaginário”; “(...) o conjunto de histórias que compõe este arco toma lugar num cenário onde os diversos agentes independentes da lei, chamados heróis, sofrem uma tentativa de regulamentação de seu exercício de heroicidade pelo governo Norte-Americano, exigindo o registro oficial de suas atividades e revelação de suas identidades secretas, ferindo uma das noções mais caras ao herói: a liberdade altruísta. Tal atitude divide a comunidade de superseres entre os pró-registro e os contra, colocando frente a frente e em campos opostos ícones dos quadrinhos e da cultura pop americana como o Homem de Ferro e o Capitão América (...) Em que medida a série de revistas e histórias que compõe o “mega-arco” de 128 revistas de Guerra Civil oferece um conjunto de representações capazes de auxiliar nas interpretações sobre o debate político da América contemporânea? (...) O atentado de 11 de setembro e seus desdobramentos foram um choque para o mundo comercial da Marvel, que se viu às voltas com efeitos do Ato Patriótico no imaginário de seu público leitor ao mesmo tempo em que procurava recuperar espaço comercial frente à renovação do mundo editorial de quadrinhos.”  
Ao trabalho PIRANOPIRA

terça-feira, 22 de junho de 2010

Copa do Mundo estranha!

Estamos em plena Copa do Mundo! Que, aliás, anda bem fraquinha. Jogos de medianos para ruins e pouca, muito pouca coisa, parecido com a Liga dos Campeões da Europa, na minha opinião o melhor campeonato de futebol do planeta. Não digo que a Champions só tenha jogos imperdíveis, tem também muita coisa medíocre mas... Olha os exemplos: O Lyon, time francês, foi a semi final do torneio europeu; já a seleção francesa deixou hoje a Copa do Mundo, de cabeça baixa e com uma das piores apresentações em mundiais da história. O Drogba, craque decisivo do Chelsea e gols nos últimos instantes; que atuação foi aquela diante do Brasil? - Tá bom! O menino quebrou o braço, poderiam alegar alguns... De qualquer forma... Bom, neste exemplo poderia ficar para sempre... O Gerrard e Lampard da seleção inglesa que não são nem de perto os maestros de seus times na Premier League, o Cristiano Ronaldo - que gol ridículo para o jogador mais caro do mundo aquele contra a fraca Coréia do Norte, O Messi que apesar das boas jogadas na Copa está longe de ser o carrasco do Arsenal nas quartas de final  da Champions... Enfim já tivemos a oportunidade de ver esse ano os melhores em suas melhores fases e agosto/setembro ela começa de novo! Então quem vê a Copa como um torneio de futebol, como eu, está um pouco frustrado. A primeira fase esta acabando, torço por uma fase final com mais futebol e menos fofoca de imprensa - assunto para outro post...   

terça-feira, 8 de junho de 2010

Fim de Lost

Passadas duas semanas da apresentação do último episódio de Lost, resolvi comentar. Logo depois de sua exibição a internet ficou coalhada de comentários sobre o fim da série e o ultimo episódio. Preferi esperar a poeira baixar... Como seria de se esperar o fim não agradou a todos como, aliás, a série inteira. Desde a estréia Lost se firmou como a clássica série “ame-a ou deixe-a” nunca houve meio termo. Maravilhosa ou cansativa não se pode negar que Lost inventou uma nova maneira do público lidar com as séries televisivas, tanto é verdade que o canal AXN, no Brasil, exibiu o ultimo episódio menos de 48 horas depois de ele ter sido exibido nos EUA o que reforça a idéia de que a série Lost visava um público bem mais amplo que a audiência americana. Isso ficou claro desde o começo com personagens de diversas nacionalidades que passaram muitas temporadas falando suas línguas pátrias e foram legendados nos Estados Unidos, algo inacreditável e inaceitável na TV aberta americana. Também foi visível, nos ricos extras das caixinhas com a temporada completa o espaço de diálogo da série com o restante do mundo. Sem falar na febre dos incansáveis downloads...

Aqui vale o agradecimento aos perfeitos tradutores Psicopatas, melhores do que os oficiais e aos amigos Tales e Thiago pelos auxílios luxuosos na, digamos, distribuição...

De fato Lost não contou com nenhum excelente ator. Muitos tiveram seus momentos na série, mas nenhum deles atingiu a excelência embora seja preciso frisar que Jorge Garcia como Hurley, Michael Emerson como Ben e Terry O’Quinn como Locke estiveram ótimos. Incluem-se ainda as boas atuações de Josh Holloway como Sawyer e Henry Yan Cusick como Desmond, mas para esses, os bons personagens foram um pouquinho maiores do que suas possibilidades de atuação. Apesar disso todos os atores tiveram suas boas cenas e o mico ficou para Rodrigo Santoro que até agora não sabe o que foi fazer no Havaí. Ah! A Evangeline enfeiou um pouco também.

O enredo rocambolesco levou a série para bem longe do que poderia ser um “Perdidos na Selva.” Física quântica e ursos polares impossíveis de combinação química a olho nu, entrelaçaram-se numa trama exótica que fez do universo de Lost um ambiente de pouca previsibilidade e muitas surpresas. Nas duas últimas temporadas o inexplicável também se debruça sobre aventura. Jacob e o homem de preto passaram a ser um contraponto interessante as explicações mais científicas e racionais sobre o que seria a Ilha. Resposta que não poderia nunca ser dada por completo ao fim da série. Isso desagradou um montão de gente, mas se pensarmos bem qualquer resposta absoluta seria apenas razoável. Ela não pode ser “tudo ao mesmo tempo agora?”. Pólo magnético, túnel do tempo, laboratório de pesquisa, o purgatório... Afinal o planeta que vivemos não mais ou menos assim? Longe de mim aceitar facilmente um explicação mágica para os eventos, mas nem todos pensam igual e se na hora de contar a história do homem no mundo e no tempo levo em consideração o que eu penso, o que outros pensam e os que estavam lá no tempo pensavam, para responder o que era a Ilha tenho que admitir esses mesmos pressupostos. Já não é um clichê que a realidade é inapreensível? Então por que sofrer se os roteiristas não disseram com todas as letras a Ilha é isso! Eles disseram que a ilha é tudo isso e isso não basta? Fica uma idéia de transitoriedade que acho bacana: sabemos das coisas de um ponto em diante e até certo ponto. Mais do que isso não nos foi revelado ou, como na maioria das vezes, não temos elementos suficientes para contar e entender, só fazer suposições. Portanto o enredo parece conduzir não para uma explicação formal e sim para exposição dos elementos que temos acesso, que podemos compreender, que os vestígios nos legaram... O todo infelizmente, para tudo na vida, é impossível.

Tudo bem que aquela capela no final com aquele vitral em que se observam os ícones de todas as religiões do mundo deixou um gosto amargo de mágica explicando tudo. Mas no fundo aquilo ali não tem nada a ver com as perguntas que fizemos ao longo da série. O final de verdade é o Jack morto! O herói por excelência cumpre sua moira. Mata o vilão, salva a Ilha e salva todo mundo, quer dizer, quase todo mundo e morre feliz. Bom trabalho Jack! Sabemos que Hugo fica como o guardião de seja lá o que for a Ilha e aquela caverna luminosa que transforma uns em fumaçinha e outros não e o Ben fica como seu segundo.

... A produtora do seriado anuncia que na caixinha da última temporada teremos uns 14 minutos desta convivência dos dois na Ilha, bom prá nós que gostamos da série...

É ao mesmo tempo bom e ruim que a série tenha terminado. Bom por que não havia mais necessidade de esticar aquela conversa. Aliás, acho que tivemos um ano extra. Com algum esforço cinco temporadas seriam perfeitas para contar a mesma história... Ah! os interesses comerciais... Vá lá! Eles é que financiam a brincadeira vamos respeitá-los... Mas lembram como ficou arrastado o final de Arquivo X pelos mesmos interesses?... Neste sentido parece que a decisão de encerrar, seja de quem tenha partido a idéia, foi nobre. Por outro lado os que assistiam a série ficam órfãos de outra semelhante em exibição atualmente. Não há nada tão divertido na TV... Estamos todos Lostidos.